Por: Graci Rocha
Tudo começou com elogios envenenados e críticas literárias que pareciam inofensivas. Esses dois autores se odiavam e você vai se surpreender com o motivo, que pode ou não ter relação com uma certa pessoa.
A verdade é que essa virou uma das histórias mais intrigantes da literatura. O embate entre Machado de Assis e Eça de Queiroz atravessou oceanos, atravessou estilos e deixou uma marca profunda na forma como os dois maiores nomes da ficção em português foram percebidos.
Neste artigo, vamos te contar o que realmente motivou a rixa literária mais cult da história.
A relação entre os dois escritores começou distante, mas cordial. Ambos eram lidos, comentados e respeitados em seus países e fora deles. Ainda assim, a frase que define esse vínculo não é amizade, e sim tensão disfarçada de civilidade ou ódio disfarçado de diferenças criativas.
Machado não poupou o romance “O Primo Basílio”. Criticou suas personagens rasas, apontou semelhanças com autores franceses e fez questão de escrever isso publicamente. Eça, em vez de rebater diretamente, preferia ironizar e fazer dedicatórias sérias demais para não soarem como piada. A implicaância foi crescendo, crítica após crítica.
Enquanto Eça importava as estruturas do realismo europeu com influências de Zola e Flaubert, Machado forjava um realismo peculiar, introspectivo e tropical. Para alguns críticos, o incômodo vinha da percepção de que Machado precisava afirmar sua própria identidade diante da sombra cultural europeia, simbolizada por Eça.
A literatura pode ter sido o palco, mas o bastidor era ainda mais pessoal. A presença de uma mulher inteligente e apaixonada por livros ampliou a rachadura entre os autores.
Carolina Augusta, esposa de Machado de Assis, era uma leitora voraz e admiradora de Eça. Dizia-se que ela conheceu o autor português antes mesmo de se casar. Machado, por sua vez, via com desconforto esse entusiasmo. O incômodo se transformou em distanciamento afetivo com as obras do rival.
Muito além da inveja artística, o que se configurou foi um ciúme emocional. Machado nunca afirmou isso abertamente, mas a intensidade de suas críticas e o desconforto com a preferência de Carolina por Eça alimentaram especulações. Eça, ciente da situação, não perdia a chance de provocar.
Não bastava o ressentimento velado. Foi uma crítica literária assinada por Machado que tornou a disputa incontornável. E a resposta de Eça foi tudo menos discreta.
Publicada sob o pseudônimo Eleazar, a resenha destruiu o romance de Eça. Machado acusou o autor de copiar Zola e Balzac, sugerindo que seus personagens careciam de originalidade e densidade psicológica. Foi uma crítica dura, que muitos acreditam ter sido movida por ciúmes e desejo de afirmação.
Seis meses depois, Eça respondeu em alto estilo, com ironia e indignacão. Alegou que sua obra era anterior à de Zola e acusou Machado de má-fé. Nos bastidores, intelectuais tentaram amenizar a situação, mas a tensão entre os dois nunca mais foi a mesma.
Apesar dos conflitos, o tempo amenizou a rivalidade e o respeito entre os dois autores foi se consolidando, ainda que sempre envolto em silêncios e indiretas. Há quem diga que acabaram sentindo até admiração um pelo outro, mas… será mesmo?
Existem registros de dedicatórias e correspondências breves entre os dois. Nada afetuoso, mas sempre polido. A famosa dedicatória “De Machado de Assis para Eça de Queiroz” resume a relação: um gesto seco, quase desdenhoso, mas repleto de significado.
Porque não era apenas uma briga de egos. Era uma disputa por espaço, identidade e reconhecimento numa época em que o Brasil buscava afirmar sua própria voz cultural. Mais do que isso: era um drama humano, repleto de paixões, inseguranças e gênio literário.
Você já leu Machado de Assis ou mesmo Eça de Queiroz? Será que agora, depois de saber que até os autores de grandes clássicos podiam se meter em treta, não dá um pouquinho de vontade de saber um pouco mais?
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